Quanto vale a vida de uma pessoa?
Para os senhores da guerra, tanto quanto um Bubbaloo
sabor banana. Para um matador de aluguel, alguns milhares de dólares. Para um
viciado, o preço de uma dose. A verdade é que a vida humana não tem preço, ou
pelo menos não um que possamos mensurar com exatidão. Afinal, quando a morte
chega, não há como comprar um adiamento do inevitável.
Mas por que essa introdução? Por
que esses pensamentos desconexos no início do presente texto? Eu não faço
ideia, talvez eu tenha em mente que vou ser remunerado por caracteres (mentira,
ninguém vai ler isso, muito menos eu serei remunerado). Se é certo que não há como mensurar quanto
vale a vida, parece-me lógico que a vida só tem valor por que há a morte.
Chegamos, então, ao questionamento que vem pipocando em minha mente desde o fim
do ano passado. Quanto vale a morte?
O ano de 2016 foi marcado por um
grande número de óbitos entre artistas bastante conhecidos. Bowie, Cauby, Elke, Prince, Alan, Carrie…
Entre muitos outros. As redes sociais pipocaram
de postagens pedindo para que 2016 acabasse logo, que estava sendo um ano
desgraçadamente desgraçado. Será?
Quantas pessoas morreram no ano
de 2016? E quantas morreram nos anos anteriores? Eu não sei. Aqueles que tanto
reclamaram do ano que recém nos deixou sabem? Eu acho que não. A questão é que
a morte é supervalorizada para alguns e subvalorizada para outros. Por que a
morte de um artista de renome é mais triste, mais sentida, que a morte de um
anônimo. Eu jamais vi alguém postar um texto em tributo ao gari que varria sua
calçada e faleceu, vítima de um atropelamento e da displicência no atendimento
em um hospital público. Mas se David Bowie morre, até aqueles que mal conhecem
sua arte lamentam comovidos. Por que a morte de Bowie é mais lamentável que a
morte do gari? Pessoalmente, David Bowie nunca varreu nenhuma calçada por onde
eu ando, e, se fosse esperar por isso, teria que caminhar em meio a toneladas
de lixo.
Num dos últimos dias do ano, após
a morte da atriz Carrie Fischer, o jornalista Jorge Pontual, correspondente
internacional da Rede Globo, fez uma piada ao vivo em um programa da Globo
News, onde imitou o personagem Chewbacca, pegando os colegas desprevenidos. Foi
uma piada de humor negro, de mau gosto, como todas as piadas de humor negro. Eu
ri bastante. Quando revi, ri mais um pouco. No entanto, as redes sociais se
derramaram de revolta contra o jornalista, acusando-o de desrespeitar
profundamente a atriz e sua família.
Assista ao comentário de Jorge Pontual
Mas será que todas essas pessoas
que se revoltaram contra Pontual nunca fizeram ou riram de uma piada parecida?
Ou só é desrespeito quando é um artista do qual se é fã? Em 2016 também morreu
Fiel Castro, as redes sociais se encheram de piadas sobre a morte do ditador.
Eu não vi ninguém reclamando, pelo contrário, só percebi muitos se divertindo.
Significa que a vida de Carrie Fisher vale mais que as de Fidel Castro, do gari
atropelado, do motorista vítima de assalto baleado quatro vezes no peito, da
criança recém-nascida morta por falta de atendimento médico adequado?
Há pouco mais de três anos, eu
perdi meu pai. No dia do meu aniversário de 27 anos, a médica assinou seu
atestado de óbito e o entregou em minhas mãos. Foi o dia mais triste de toda a
minha vida, assim como os dias que precederam a data, e os seguintes, foram os
mais difíceis pelos quais já passei. Quando me lembro daquele momento, ainda se
forma um nó na garganta e tenho vontade de chorar. Eu penso todos os dias nele,
e queria com todas as minhas forças que tivéssemos um pouco mais de tempo
juntos. Essa morte é a que mais importa para mim. Contudo, eu entendo que a morte é parte
inevitável da vida. Todos vão partir um dia (ok, talvez o Sarney fique por aí,
mas isso é outra história), e, claro, eu não gostaria de ouvir uma piada sobre
a morte do meu pai enquanto estivesse velando seu corpo ou guardando luto pela
sua partida. Mas também não me doeria como uma criança mimada, porque aquele
momento, aquela dor era tão grande que um comentário ou uma piada qualquer
teria um valor totalmente insignificante. Além disso, aquela dor era minha,
aquele luto era meu, e não seria sensato nem justo esperar que todos sentissem
o mesmo. Assim como é extremamente mesquinho e burro esperar que Jorge Pontual
sentisse a morte de Carrie Fisher como sua família, ou como aqueles que amavam
seu trabalho, e, em vez de fazer seu trabalho, chorasse como uma carpideira.
É fácil apontar, acusar, agredir.
É difícil pensar e tentar evitar a hipocrisia, ser imparcial, ser justo.
Ademais, a vida também vai acabar pra você, e é sua escolha vivê-la ou perder
seu tempo acusando quem está apenas aproveitando a sua como lhe convém.
Deixe nos comentários sua
opinião, ou uma piada envolvendo a morte de alguém que te fez rir.
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