quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Quanto Vale a Vida? [A princesa, O engraçadão e O Velho Ditador]



Quanto vale a vida de uma pessoa? Para os senhores da guerra, tanto quanto um Bubbaloo sabor banana. Para um matador de aluguel, alguns milhares de dólares. Para um viciado, o preço de uma dose. A verdade é que a vida humana não tem preço, ou pelo menos não um que possamos mensurar com exatidão. Afinal, quando a morte chega, não há como comprar um adiamento do inevitável.

Mas por que essa introdução? Por que esses pensamentos desconexos no início do presente texto? Eu não faço ideia, talvez eu tenha em mente que vou ser remunerado por caracteres (mentira, ninguém vai ler isso, muito menos eu serei remunerado).  Se é certo que não há como mensurar quanto vale a vida, parece-me lógico que a vida só tem valor por que há a morte. Chegamos, então, ao questionamento que vem pipocando em minha mente desde o fim do ano passado. Quanto vale a morte?

O ano de 2016 foi marcado por um grande número de óbitos entre artistas bastante conhecidos.  Bowie, Cauby, Elke, Prince, Alan, Carrie… Entre muitos outros.  As redes sociais pipocaram de postagens pedindo para que 2016 acabasse logo, que estava sendo um ano desgraçadamente desgraçado. Será?

Quantas pessoas morreram no ano de 2016? E quantas morreram nos anos anteriores? Eu não sei. Aqueles que tanto reclamaram do ano que recém nos deixou sabem? Eu acho que não. A questão é que a morte é supervalorizada para alguns e subvalorizada para outros. Por que a morte de um artista de renome é mais triste, mais sentida, que a morte de um anônimo. Eu jamais vi alguém postar um texto em tributo ao gari que varria sua calçada e faleceu, vítima de um atropelamento e da displicência no atendimento em um hospital público. Mas se David Bowie morre, até aqueles que mal conhecem sua arte lamentam comovidos. Por que a morte de Bowie é mais lamentável que a morte do gari? Pessoalmente, David Bowie nunca varreu nenhuma calçada por onde eu ando, e, se fosse esperar por isso, teria que caminhar em meio a toneladas de lixo.

Num dos últimos dias do ano, após a morte da atriz Carrie Fischer, o jornalista Jorge Pontual, correspondente internacional da Rede Globo, fez uma piada ao vivo em um programa da Globo News, onde imitou o personagem Chewbacca, pegando os colegas desprevenidos. Foi uma piada de humor negro, de mau gosto, como todas as piadas de humor negro. Eu ri bastante. Quando revi, ri mais um pouco. No entanto, as redes sociais se derramaram de revolta contra o jornalista, acusando-o de desrespeitar profundamente a atriz e sua família.

Assista ao comentário de Jorge Pontual

Mas será que todas essas pessoas que se revoltaram contra Pontual nunca fizeram ou riram de uma piada parecida? Ou só é desrespeito quando é um artista do qual se é fã? Em 2016 também morreu Fiel Castro, as redes sociais se encheram de piadas sobre a morte do ditador. Eu não vi ninguém reclamando, pelo contrário, só percebi muitos se divertindo. Significa que a vida de Carrie Fisher vale mais que as de Fidel Castro, do gari atropelado, do motorista vítima de assalto baleado quatro vezes no peito, da criança recém-nascida morta por falta de atendimento médico adequado?

Há pouco mais de três anos, eu perdi meu pai. No dia do meu aniversário de 27 anos, a médica assinou seu atestado de óbito e o entregou em minhas mãos. Foi o dia mais triste de toda a minha vida, assim como os dias que precederam a data, e os seguintes, foram os mais difíceis pelos quais já passei. Quando me lembro daquele momento, ainda se forma um nó na garganta e tenho vontade de chorar. Eu penso todos os dias nele, e queria com todas as minhas forças que tivéssemos um pouco mais de tempo juntos. Essa morte é a que mais importa para mim.  Contudo, eu entendo que a morte é parte inevitável da vida. Todos vão partir um dia (ok, talvez o Sarney fique por aí, mas isso é outra história), e, claro, eu não gostaria de ouvir uma piada sobre a morte do meu pai enquanto estivesse velando seu corpo ou guardando luto pela sua partida. Mas também não me doeria como uma criança mimada, porque aquele momento, aquela dor era tão grande que um comentário ou uma piada qualquer teria um valor totalmente insignificante. Além disso, aquela dor era minha, aquele luto era meu, e não seria sensato nem justo esperar que todos sentissem o mesmo. Assim como é extremamente mesquinho e burro esperar que Jorge Pontual sentisse a morte de Carrie Fisher como sua família, ou como aqueles que amavam seu trabalho, e, em vez de fazer seu trabalho, chorasse como uma carpideira.

É fácil apontar, acusar, agredir. É difícil pensar e tentar evitar a hipocrisia, ser imparcial, ser justo. Ademais, a vida também vai acabar pra você, e é sua escolha vivê-la ou perder seu tempo acusando quem está apenas aproveitando a sua como lhe convém.


Deixe nos comentários sua opinião, ou uma piada envolvendo a morte de alguém que te fez rir.

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