sexta-feira, 21 de junho de 2013

CONFISSÕES DE UMA PRESIDENTE: a caminho do cadafalso

O texto abaixo é absolutamente ficcional e, apesar de se inspirar nos eventos recentes e em pessoas reais (não verdadeiras), não guarda nenhum compromisso com a realidade dos fatos. Ressalto que qualquer apologia à violência deve ser repudiada. Repito, o texto abaixo é FICCIONAL, e assim deve permanecer. 

Boa Leitura.



Hoje o país acordou mais forte. Que bosta! Eu? Bem, eu não acordei, por que, na verdade, não consegui dormir. A maioria dos brasileiros deve estar sorrindo agora, comemorando uma vitória histórica, um momento que “nunca antes na história desse país” foi visto. Enquanto eu só posso lamentar.



Há alguns anos atrás, eu era apenas uma ministra tranquila e feliz, ganhava minha humilde fortuna, acobertava os malfeitos do governo e levava minha vida como qualquer outro trabalhador honesto. Então, veio o mensalão. Ah, o mensalão... Maldito dia em que a merda, finalmente, foi atirada no ventilador. Quem diria que, no fim das contas, era eu que ficaria toda cagada.

Tudo já estava acertado, o Luizinho terminaria seus oito anos e o Zé já estava pronto para assumir. Meu ministério estaria garantido, meu filho poderia traficar influência (não confundir com a gripe suína, eu juro que não tivemos nada a ver com isso, pergunta para o Serra, a culpa é dos porquinhos!) à vontade. O país seria um paraíso vermelho, decorado com estrelas brancas, onde todos teriam um cartão amarelo para sacar sua merrequinha no início de cada mês. Mas as coisas nem sempre são como imaginamos.


Depois que a merda toda foi jogada na cara do povo, o Zé teve que ficar na encolha, o partido não sabia o que fazer, precisavam de um nome forte, mas todos estavam sujos. Decidiram inventar alguém. Quando fiquei sabendo, jamais pensei que fosse eu a escolhida. A principio, senti-me lisonjeada. Finalmente me deram o devido valor, pensei. Desculpe a linguagem, mas: porra nenhuma!



Prometeram-me mundos e fundos, garantiram que o Brasil seria a nova Cuba, e que eu seria o novo Fidel. Eu, ingênua e sem maldade, acreditei. Fiz tudo o que mandaram, cortei o cabelo, passei batom, até me vesti de mulher. Repeti cada palavra que me assopraram no ponto eletrônico. Abracei gente pobre, mendigo, pivete catarrento, doente, retardado, preto, bicha; todo mundo. Deixei de ser o Dilmão, como me chamavam em Brasília, para me tornar a Dilma, primeira mulher a governar o Brasil.

No começo, tudo deu certo, o povo me adorou, me ovacionou e eu agradeci distribuindo cartões mágicos para todos. Bendito seja o Bolsa Família. Mas então, a COPA DO MUNDO. Maldita Copa do Mundo!

Recebi uma lista quilométrica de empresas: empreiteiras, fábricas, e todo o tipo de grupo comercial. Era muita gente para amamentar, mesmo que a vaca estivesse bem gorda. Eu tentei argumentar, mas não me ouviram. Quando as obras da Copa, enfim, ficaram prontas. Parecia que tudo tinha dado certo. Todo o dinheiro lavado e desviado não chamara a atenção como eu temia. Tranquilizei-me, pedi uma TV nova e esperei para acompanhar os jogos.

De repente, a confusão começou. Primeiro em São Paulo, por causa de uma merda de vinte centavos. Mas a coisa se proliferou, pior do que pagode ou funk. Em poucos dias, o país todo estava mobilizado. Eu tinha que fazer alguma coisa. Chamei o Luizinho e botei as cartas na mesa. Tá na hora do Brasil virar Cuba!, eu falei. Mas, ao contrário do que eu esperava, ele não me apoiou, ninguém me apoiou. Vai ter que segurar as pontas, disseram, isso vai passar, brasileiro esquece rápido. Mas eles não esqueceram.

Foram meses de passeatas, protestos e manifestações; até o dia fatídico. Quando a invasão aconteceu, nossas defesas eram escassas, 90% do contingente do exército havia aderido ao movimento e nossa vulnerabilidade era evidente. Eu estava na suíte presidencial, implorei para que me dessem uma arma, mas se recusaram, disseram que iria manchar a imagem do partido. Antes de arrombarem minha porta, eu ouvi o barulho da multidão adentrando o palácio, os móveis sendo quebrados; foi horrível.

Levaram-me para uma prisão comum, uma cela escura e fétida. Ao menos tiveram a decência de me deixar numa cela individual. Quando ousei agradecer por isso, disseram-me que eu estava sozinha por que ninguém quis dividir uma cela comigo. Durante um mês, permaneci presa, mal alimentada, suja e sem minha dignidade. Fui julgada e sentenciada à revelia. Hoje, 1º de abril de 2014, é o grande dia.

Agora, ouço os passos de meus algozes. Dois homens negros, altos e exageradamente fortes. Estão abrindo as grades. Cada um segura um de meus braços e me arrastam rumo ao meu destino. Chegamos aos portões da penitenciária e eu me lembro do dia em que tomei posse, pois uma multidão está a minha espera, mas, diferente do passado, hoje todos vaiam, gritam palavras de ordem e ofensas da pior categoria. Alguns atiram ovos podres e tomates estragados; meu uniforme alaranjado é maculado pelos arremessos. Outros carregam bonecos de pano com o meu rosto, pisoteiam minhas “cópias”, esfaqueiam e incendeiam com prazer.

Os dois negros me empurram, apressando minha marcha. Em frente à multidão, uma imensa estrutura de madeira me espera. Contorno meu último palanque com lágrimas presas na garganta ressecada. Um gosto amargo na boca me causa ânsia de vômito e todo meu corpo doí e estremece. Meu pé encontra os primeiros degraus e eu termino a subida de cabeça baixa, percorrendo o cadafalso até o centro.

Posicionam-me de frente para a plateia, para o meu discurso derradeiro. Antes que eu possa falar, cobrem meu rosto com um capuz preto, e então as vozes extasiadas se fazem mais presentes em meus ouvidos. O povo, que um dia me adorou, se regozija em minha desgraça. Sinto um colar áspero envolver meu pescoço, respiro fundo enquanto o nó é apertado. Antes de completarem o show, me oferecem um microfone para que eu profira minhas últimas palavras.

Que diabos eu posso dizer?, eu penso. Mas já que estou aqui, que se dane. Levanto a cabeça como um coronel orgulhoso de seu exército e digo a primeira coisa que me vem à cabeça:

— Fiquem com Deus, meus filhos ingratos. E que no inferno as pessoas sejam mais burras.

O carrasco aciona a alavanca, um creque anuncia o pescoço quebrado.

Alguns segundos de silêncio.

E então...   A multidão vai ao delírio.


Adeus, mundo cruel.






2 comentários:

  1. Respostas
    1. Fico feliz com o comentário. É bom compartilhar nosso trabalho. Se quiser seguir o blog, pretendo sempre publicar novos textos.

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